Julius Caesar e o calendário

A civilização Romana primeva tinha um calendário de apenas 304 dias divididos em 10 meses, que Numa Pompílio (713 a.C.) muda e aproxima do calendário lunar grego, ficando com 7 meses de 29 dias, 4 meses de 31 dias (Março, Maio, Julho, Outubro) e Fevereiro de 28 dias, num total de 355 dias (12 lunações de 29,53 dias). Quase todos eram ímpares porque, pela superstição romana, os meses com dias pares dão azar.

Quando Gaius Júlio César assume o poder em Roma (ano 58 a.C.) o desfasamento do calendário com as Estações do ano era tal que incumbe astrónomos de solucionarem o problema. Aconselha-se com Sosígenes (de Alexandria) que calculou o desfasamento em 67 dias. Por isso, Júlio César introduziu 2 meses extra no ano 708 de Roma (46 a.C.), criando-se o maior “ano civil” da história com 445 dias: o famoso Ano da Confusão.

Sosígenes sabia do atraso de 1 dia no início da Primavera em cada 4 anos, criado pelo calendário Egípcio de 365 dias, valor que foi determinado pelos seus astrónomos durante 1460 anos (o período sotíaco, de Sotis = Sírio). Assim, o ano 45 a.C. marca o início do novo Calendário Solar Juliano em Roma, definido por um ciclo de 4 anos que se repete indefinidamente: 3 anos comuns de 365 dias e o quarto ano de 366 dias.

Júlio César também decreta que os meses podiam ter um número par de dias, para absorver os 10 dias novos na duração regular do ano. Isto levou ao calendário atual com 4 meses de 30 dias, 7 meses de 31 dias e Fevereiro com 28 dias, ou 29 no quarto ano.

A regra de Sosígenes dos anos bissextos foi mal interpretada e a sua aplicação foi feita de 3 em 3 anos durante 36 anos. Por isso, em vez de 9 anos bissextos (corretos) fizeram-se 12. Esta contagem de 3 dias a mais foi corrigida pelo imperador César Augusto: ordenou que após o ano 9 a.C. (último que seria bissexto) os próximos 12 anos seriam regulares. Esta correção terminou em 4 d.C. que não foi bissexto, mas iniciou a contagem Juliana correta. Deste modo, o ano bissexto seguinte foi 8 d.C. da Era Cristã que, com o ciclo de 4 anos, é a razão para que todos os anos múltiplos de 4 sejam bissextos.

A aplicação do novo calendário espalhou-se por todo o império romano e séculos mais tarde, o excesso que é gerado pelo dia bissexto criou um novo desfasamento. O ano Juliano, com uma duração média exata de 365d 6h, tem uma diferença por excesso de 11m 14,8s em relação à duração do Ano Trópico (civil), o que origina um adiantamento na data do início da Primavera. No ano de 1582 o Papa Gregório XIII decreta a sua correção mas esta história fica para a Santa Páscoa.

Março do inverno-verão

Pelo equinócio da Primavera acontecem os dias que a tradição popular canta no rifão: “Março, marçagão, de manhã inverno, à tarde verão“.

A 20 de Março o sol passa no zénite do equador. Esta posição permite que durante a rotação diária todas as localidades na Terra tenham 12 horas de sol (direto no chão) e 12 horas de noite. Assim, há tempo suficiente à noite para a atmosfera local arrefecer, com as trocas e a inércia que tem, e durante as 12 horas em que o sol aparece no céu a atmosfera tem tempo para aquecer, recebendo o calor emanado do solo já aquecido.

Total de Horas de Sol (hh:mm) e Insolação Diária (MJ/m2) em Março/2018

dia 1 dia 16 dia 31 1->31
latitude N->S  HrSol MJ/m2 HrSol MJ/m2 HrSol MJ/m2 ΔI%
Bragança 11:15 16,1 11:57 18,8 12:39 21,5 +33,3%
Coimbra 11:18 16,7 11:58 19,3 12:37 21,8 +31,2%
Lisboa 11:20 17,2 11:58 19,8 12:36 22,3 +29,2%
Ponta Delgada 11:22 17,6 11:58 20,1 12:35 22,5 +28,0%
Faro 11:23 17,8 11:58 20,3 12:34 22,6 +27,2%
Funchal 11:29 19,3 11:59 21,5 12:30 23,6 +22,4%

É muito curioso ver nesta tabela que antes do equinócio, com o sol ainda em declinação (latitude) negativa há mais horas de sol diárias no lado sul do país, mas depois do equinócio Vernal a situação inverte-se. Contudo, a insolação está sempre a aumentar, pois o sol vai subindo em declinação até ao dia 21 de Junho, o que aumenta a altura máxima ao horizonte local e assim concentra mais luz por m2 no solo. Nas latitudes mais altas o aumento de energia no solo é de 33,3% durante o mês, ao passo que na Madeira fica-se pelos 22,4%, indicativo dum clima mais ameno.

Para os jovens que não conhecem este adágio popular, podem agora lê-lo em estilo rap (monocórdico e monoritmo): “Março, marçagão, de manhã faz inverno e à tarde é verão“.

O Início da Primavera

Todos os anos a Terra passa no ponto Vernal e isso define o momento em que começa a Primavera no hemisfério norte do planeta. Em 2018, aconteceu no dia 20 de Março às 16h15min (Observatório Astronómico de Lisboa). Já lá vão os tempos em que este Equinócio acontecia a 21 de Março, mas desde há uns anos a esta parte foi e será a 20 de Março. Porém, a partir de 2044 inclusivé teremos alguns anos (2048, etc.) em que ocorrerá no final do dia 19 de março. São coisas da precessão do eixo terrestre, da duração do dia e do calendário Gregoriano. Mudam-se os tempos…

Esse dia e hora corresponde ao instante em que a reta de intersecção do plano da eclíptica (órbita terrestre) com o plano do equador (que acompanha a Terra), que mantém – quase – sempre a mesma direção, passa exactamente pelo centro do sol. É um dia em que a duração da noite iguala a do dia (com luz solar direta)… quase, quase, mas não exatamente.

Boa Primavera (!) pois durará 92,79 dias até ao próximo Solstício, no dia 21 de Junho às 11h07min.