Porquê o equilíbrio majestoso em três figuras dinâmicas tão interligadas? Será da geometria apaixonante aqui entranhada?
Há um ponto no escuro mas fulcral: a pata do corcel onde confluem direcções duma dinâmica equilibrada. Esses traços imaginários,
- guiam a pose em V do bailado, que nos guia a vista no busto e no rosto iluminados;
- indicam a ausência de esforço na graciosidade da perna ereta, pois mostra-se em leveza sustentada.
- A diagonal principal é da luz iluminante, tornam louro o equídeo flamejante e projeta-se na base apoiante.
- O arlequim d’ouro banhado está vertical e repousado, mas as linhas do trajo apontam ao casco atrasado.
- A perna recuada segue a direção da luz que passou no braço elevado. O arlequim parece em dança sustentado.
A montagem é balanceada entre linhas verticais que apoiam o cavalo e o arlequim à esquerda, uma pata e um braço ao centro e a garupa com a bailarina à direita. Esta senta-se na base horizontal dum corcel perfeitamente equilibrado.
Conclusão: a vista incessante percorre o quadro à procura da razão desta dinâmica descansada. Quer ver tudo e entender porque não consegue afastar-se. Mas repousa ao concluir que é na geometria recôndita de Almada Negreiros que está o substrato fantástico.
Sai-se daqui a pensar: que pena não poder ter aulas com este mestre.
Epílogo: este tema foge à astronomia mas não é apenas de universo que é feita a vida humana. Da próxima vez comentarei outro arlequim de Almada Negreiros. Não perca.
Rui Agostinho, maio-2018
texto inicialmente colocado no Facebook, 8-jun-2017.